Angola registou, em 2017, cerca de 151.000 dadores, dos quais 126.000 familiares e 11.000 voluntários, o que resultou na recolha de 138.000 unidades de sangue, longe das 360.000 unidades de que o país precisa anualmente, anunciaram hoje as autoridades.
A informação foi transmitida pelo secretário de Estado da Saúde para área Hospitalar de Angola, Valentim Altino Matias, quando falava, em Luanda, no acto central do Dia Mundial do Dador de Sangue, que hoje se assinala, em que anunciou “medidas para inverter a situação”.
“Estes números estão aquém do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo a qual, os dadores voluntários devem corresponder a 1% da população. O Ministério da Saúde reconhece as dificuldades no acesso ao sangue”, disse.
Adiantou ainda que o Ministério da Saúde está engajado na melhoria da situação, dinamizando a rede de serviços do Instituto Nacional de Sangue (INS), aplicando um rigoroso processo de colheita, análise, processamento, armazenamento e distribuição do sangue e seus componentes.
Na cerimónia, que contou com a presença de centenas de dadores voluntários, o governante apelou a todas as pessoas saudáveis a solidarizarem-se com as pessoas doentes, dando um pouco do seu sangue regularmente.
De acordo com Valentim Altino Matias, as celebrações do Dia Mundial do Dador de Sangue, serve também para reflectir sobre a importância do sangue para a saúde, aumentar a consciencialização sobre a necessidade das doações regulares para garantir a qualidade.
Por sua vez, a directora-geral do INS de Angola, Deodete Machado, referiu que o instituto “precisa do apoio de todos” para atingir a meta preconizada, que é de 260.000 unidades por ano.
Pois, “Angola ainda está muito longe de responder àquilo que é a orientação da Organização Mundial da Saúde, que é ter 100% de doação voluntária e ter a segurança para todos os dadores”.
“O Instituto Nacional de Sangue tem definido um plano de actividades e estratégias para programas de promoção da dádiva. O desafio para 2019 é atingir 300.000 unidades”, adiantou.
Já o representante da OMS em Angola, Hernando Agudelo, exortou os ministérios da Saúde dos países africanos a aplicarem medidas activas para reforçar os serviços nacionais de transfusão de sangue, de modo a aumentar o acesso universal do sangue de modo seguro.
“Nos países africanos a procura de transfusões de sangue está a aumentar e muitos pacientes estão a morrer devido à sua escassez. Daí que lançamos um apelo aos países, que apoiem as dádivas de sangue voluntárias e que garantam um financiamento adequado”, sustentou.
Na ocasião, o Instituto Nacional de Sangue rendeu homenagem a centenas de dadores voluntários, agraciando-os com certificados de mérito pelo seu contributo regular nas campanhas de doação.
Tristes histórias de… sangue
No dia 23 de Março de 2016, a UNITA denunciou em comunicado que cerca de 50 militantes foram impedidos de doar sangue no Hospital Geral de Luanda, numa altura em que o país enfrentava uma rotura de dádivas para transfusão.
O incidente, de acordo a UNITA, teve lugar a 17 de Março, num hospital da capital angolana onde morriam diariamente 15 a 20 pacientes.
A direcção daquela unidade hospitalar explicou que o partido não terá informado previamente, por escrito, da mobilização deste grupo de militantes para a dádiva, alegando a necessidade de criar condições para a recolha de sangue.
A emenda é, de facto, pior que o soneto. O apelo à doação de sangue foi feito e, perante uma situação de calamidade, não é necessária nenhuma logística especial para recolher o sangue. Aliás, o único problema levantado foi o de os doadores serem simpatizantes, ou membros, da UNITA
“Fiquei chocado de ouvir que mais de 50 pessoas que ouviram o nosso apelo e foram apresentar-se ao hospital para darem o seu sangue e salvarem vidas, foram rejeitadas porque são da UNITA, quer dizer que se afinal até para salvar vidas é preciso o cartão de membro do MPLA, então o país está mais uma vez estragado, não podemos também continuar assim”, afirmou na altura Isaías Samakuva.
“Vimos mães que vieram ter connosco pessoalmente, desesperadas, queriam até que nós déssemos o nosso sangue ali, para salvar as suas crianças”, apontou Samakuva, reiterando que algo vai muito mal num país em que é necessário ter cartão de membro (do MPLA) para doar sangue.
Este incidente com militantes da UNITA foi denunciado horas depois de uma comitiva da CASA-CE ter visitado o hospital Josina Machel, em Luanda, tendo divulgado imagens de cerca de 60 jovens militantes a doarem sangue.
Folha 8 com Lusa